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Quem tocou fogo e matou 'Santana' com queimaduras de 2º grau em 35% do corpo?

  • 17 de jul. de 2024
  • 5 min de leitura

José dos Santos vivia em situação de rua quando foi violentado. A irmã da vítima falou com exclusividade para o 'Que Vem das Ruas'.


Quem matou José dos Santos ou ‘Santana’ como era conhecido? Esta pergunta a Polícia Civil de Sergipe (leia a investigação mais abaixo) terá que responder à família deste homem de 54 anos, há cerca de 10 anos em situação de rua. Na próxima sexta-feira, 19 de julho , ele completaria mais um ano de vida.


José foi vítima de homicídio, fizeram dele uma tocha humana. Teve queimadura de 2º grau na face, tronco, membros superiores e inferiores, somando 35% do corpo afetado. Motivo de ter sido acompanhado pela equipe multidisciplinar da Unidade de Tratamento de Queimados (UTI) até o dia 31 de maio, data que foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e somente no dia 8 de julho para uma enfermaria. Diz a nota enviada pela da Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe.



Será que ‘Santana’ tinha mesmo o que celebrar no dia 19 de julho? Um homem esquecido pela sociedade, abandonado pelas políticas públicas e pelo Estado Brasileiro que só não morreu indigente porque ainda existem servidores compromissados com os verdadeiros chefes: o povo.


José dos Santos nasceu em São Cristóvão, na Grande Aracaju, filho de Zanalva dos Santos (no RG não consta o nome do pai) e ainda criança foi adotado junto com irmão Marcos (que também vivia em situação de rua e morreu, há uns 4 anos, por causa do alcoolismo) pela mãe de dona Márcia de Oliveira. Quando os meninos chegaram à casa da nova família somaram 14 irmãos. Era muita traquinagem em um só lugar, muito amor que só cabia nos corações dos pais de Márcia.


“Santana era um menino muito bom com a gente, dentro de casa. A gente gostava muito dele e a convivência da gente era boa. O problema era a bebida, ele já era alcoólico. Ele podia passar oito, 15 dias no máximo fora de casa, mas depois voltava. Aí se danava para sair para a rua para beber, ninguém o segurava. Ele ficava azoado e saia atacado”, conta emocionada.

O retorno ao Instituto Médico Legal de Sergipe (IML), em Nossa Senhora do Socorro (SE), foi muito difícil para dona Márcia. Há quatro meses ela perder o filho assassinado aos 17 anos, em Aracaju, e o outro de 15 anos, também assassinado em Simão Dias (SE), há 7 anos. O esposo dela teve o mesmo final de vida.


Ela não pode desanimar, precisa vencer mais essa dor. Afinal, tem outras duas filhas para criar, uma de 5 anos e outra de 7 anos. (Acredito que a família vai precisar de muito apoio financeiro e psicológico. Algum voluntário?) No IML, dona Márcia estava acompanhada de Tereza Albertina, uma educadora social do Município de São Cristóvão que resolvia a burocracia da liberação e sepultamento do corpo.


Enquanto esperava a funerária para recolher o corpo, já próximo ao meio-dia, Márcia puxava da memória as lembranças do irmão. “Todo mundo conhecia ele na cidade. Ele vivia mais na rua, nas casas do povo que ele conhecia. O pessoal dava apoio, dava comida, dormida e era assim a vida que ele levava”, revelou. 


Por volta das 15h30, José dos Santos ou ‘Santana’ finalmente foi sepultado em uma cerimônia simples na presença da irmã, da educadora social, do motorista do município e do coveiro no Cemitério da cidade de São Cristóvão.


A notícia da morte do irmão de criação

Enquanto estava internado no Huse, Márcia se dividia entre o hospital e a criação das duas filhas. Às vezes que esteve com Santana ele não conversava, estava desacordado e ligado aos aparelhos. No dia que morreu, a educadora social ainda testemunhou o paciente mexendo com os olhos.


A cada dia que 'Santana' ficava no hospital as notícias só pioravam, mesmo com a saída da Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) e da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Até que um certo dia o quadro pareceu ter mudado.


“O médico dele entrou em contato comigo e falou que ia pegar a alta e ia precisar de uma pessoa para acompanhar no hospital. Dei a explicação que eu não poderia, porque tenho duas filhas pequenas e não tinha com quem deixá-las”, contou.


O pessoal do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) de São Cristóvão esteve na residência dela e constatou as dificuldades alegadas para cuidar do irmão, assim como cuidar sozinha das duas meninas. “Foi um dia que ela foi lá, dois dias e eu recebi a notícia de que ele tinha falecido”, disse ainda sem acreditar.


“Falar a verdade... isso não é um ser humano... fazer isso com uma pessoa. Mas aí só posso deixar na mão do Senhor e descansar, porque a justiça maior é a de Deus. Não adianta a gente querer vingança com vingança, porque a vingança é a melhor do Senhor. E Ele resolve tudo. Aquilo que a gente não pode resolver o Senhor pode... entendeu? E aí quem fez isso com ele eu creio que deve estar arrependido. Só quem pode julgar mais é Deus. E eu não posso”, desabafa dona Márcia.

Um crime covarde e bárbaro

No início de maio, quando às equipes da Saúde do Município de São Cristóvão receberam o chamado para socorrer José dos Santos perto da UPA do Rosa Elza, na Região da Universidade Federal de Sergipe (UFS), testemunhas contaram que criminosos teriam jogado um produto químico nele e ateado fogo. Mas quem fez isso? Quando? Onde estão as imagens?


Quando o Que Vem das Ruas procurou a Secretaria da Segurança Pública de Sergipe (SSP/SE) no dia 23 de maio foi informado que não havia registro policial sobre o caso. Somente no dia 6 de junho é que chegou uma nota informando sobre o início das investigações. Na semana passada houve uma atualização, inclusive relatando que não tinha sido a primeira agressão que a vítima teria sofrido com situação semelhante.


“A vítima possui ainda histórico de transtorno psiquiátrico - esquizofrenia e autismo - e era um andarilho, circulando por diversos bairros e por cidades do interior. O levantamento mostrou, ainda, que em uma dessas cidades do interior, anos antes, a vítima teria apresentado um quadro semelhante de queimaduras, razão pela qual chegou a ficar internada no Huse”, dizia a nota.

Após ser comunicada sobre a morte do homem em situação de rua, a SSP/SE enviou nova nota dizendo que a investigação será redirecionada da 6ª Delegacia Metropolitana, em São Cristóvão, para o Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP).


Já foram coletadas informações com comerciantes locais, assistência social e Controladoria da Prefeitura de São Cristóvão, de parentes da vítima e do Posto de Urgência do município.


A apuração policial levantou ainda que “a vítima apareceu deitada nos passeios do centro comercial do conjunto Eduardo Gomes há cerca de cinco meses, apresentando graves lesões e, sem qualquer atendimento médico ou denúncia na delegacia. Há suspeitas de que as lesões na vítima teriam sido causadas no bairro Siqueira Campos, em Aracaju, onde o andarilho também costumava ser visto”.


Que José dos Santos ou 'Santana', como era conhecido, finalmente consiga descansar em PAz! E a dona Márcia e seus familiares os sentimentos de toda a equipe Que Vem das Ruas.


 
 
 

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