"Ninguém dá oportunidade de trabalho para quem não tem onde tomar um banho"
- 29 de out. de 2024
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O que pra muita gente é rotina, para Abraham Lincoln, 37 anos, é barreira diária. "Estou há quatro dias sem tomar banho. Este momento era muito esperado", revela o homem que é uma das mais de 640 pessoas que todos os dias dormem nas calçadas e praça da capital de Sergipe. segundo dados preliminares do Censo da População em Situação de Rua de Aracaju.
"Ninguém dá oportunidade de trabalho para quem não tem onde tomar um banho", desabafou Márcio Augusto, 33 anos, que desde muito criança vive a dor de não ter um lugar para morar.
Pelo menos hoje, Wellington de Jesus, 56 anos, teve a fome saciada. "è, tem dias que a gente acorda e não sabe se vai ter comida pra comer. Eu tenho que catar material reciclável para matar minha fome", disse.
"Eu tenho mais de vinte anos nas ruas e vejo as coisas piorarem a cada dia. Eu já passei mais de um mês com a mesma roupa no corpo, sem oportunidade de tomar um banho. Vocês não imaginam o que é passar suado e o povo se afastar, com nojo e medo", contou Edson Santos após ser atendido pelas equipe das Pastoral do Povo da Rua, da Associação Bom Pastor e do Projeto Banho para Todos.
"Hoje, as pessoas chegam no Centro Pop e não acessam abrigo e acolhimento. A demanda não é suprida e o usuário sai sem o desejo de reclamar. Precisamos da efetivação de políticas públicas que já existem. Nossa prioridade como movimento é moradia, emprego, renda, educação e acesso ao território, a saída da rua", pontuou o coordenador estadual do Movimento Nacional de População de Rua em Sergipe, Alisson Oliveira.
Os relatos foram protagonizados por cerca de 30 pessoas em situação de rua na sede do Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE), nesta terça-feira (29), quando a instituição realizou uma reunião pública com a presença de diversas autoridades.
"Os protagonistas do dia de hoje, aqui no MPT, são vocês. Com essa reunião, queremos promover uma escuta adequada e necessária para iniciar um movimento de capacitação e evitar que novas explorações sejam cometidas, além de, combater as que já existem", afirmou o procurador-chefe do MPT-SE, Márcio Amazonas.
"Gostaria de pedir, em nome do poder público, perdão pela nossa omissão. Nós temos sido cruéis com vocês. Em regra, nós fazemos de conta que não enxergamos. E quando enxergamos é para temer. Mas, hoje, a casa foi aberta para ouvir vocês. A partir de agora suas vozes não serão mais perdidas no ar", enfatizou o procurador do Trabalho e coordenador regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete), Adroaldo Bispo.

Autoridades presentes
Secretário de estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo, Jorge Teles; defensor público do Estado e diretor do Núcleo de Direitos Humanos, Sérgio Barreto Morais; procuradora da República do Ministério Público Federal (MPF), Martha Figueiredo; presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe (OAB-SE), Lilian Jordeline Ferreira; procurador-Geral de Contas, Eduardo Rolemberg Côrtes; promotor de Justiça Luiz Cláudio Almeida, representando o Ministério Público de Sergipe (MPSE); tenente-coronel William Rocha, representante da Polícia Militar; presidente do Instituto Social Ágatha, Talita Verônica; o vice-presidente da Cáritas Arquidiocesana, Paulo Evangelista; representantes da Secretaria de Estado da Saúde (SES); coordenadora do Consultório na Rua, da Prefeitura de Aracaju, Keila Barros; coordenadora do Abrigo Freitas Brandão, Kelly Teles; assistente social da Associação Bom Pastor, Rosivânia Ramos; Associação de Juristas Católicos da Arquidiocese de Aracaju (Ajucat); coordenador da Pastoral Povo da Rua da Arquidiocese de Aracaju, Marcos Corrêa; e o Banho Para Todos.
Dados Oficiais
No Brasil o número de pessoas em situação de rua aumentou bastante em pouco mais de uma década, segundo dados do CadÚnico, do Governo Federal. Passou de 22. 922 em 2013 para quase 309.998 no último mês de setembro (309.998). São Paulo é a capital brasileira com maior número de pessoas sobrevindo nestas condições: 86.344. A Aracaju concentra a maior parte dessas pessoas, 1.053, já o estado tem 1.373. Em 2013 Sergipe eram apenas 253 pessoas em situação de rua, 86% estavam na capital.
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