Jornal 'Boca de Rua' é impedido de participar de coletiva da Prefeitura de Porto Alegre
- 27 de abr. de 2024
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Por Anderson Barbosa.*
As inúmeras falas do ‘Jornal Boca de Rua’ denunciando as condições estruturais da Pousada Garoa – localizada na Avenida Farrapos, Região Central de Porto Alegre, Rio Grande do Sul - parecem que nunca foram ouvidas pela sociedade e muito menos pela Gestão Municipal. O que eles alertavam aconteceu na madrugada de 26 de abril, quando 10 pessoas em situação de vulnerabilidade social morram vítimas do incêndio que atingiu o prédio.
Da mesma forma que não ouviram, horas depois do ocorrido, o representante desse veículo. Ele foi impedido de participar da coletiva da Prefeitura de Porto Alegre, realizada na sexta-feira (25), quando ‘todos’ os questionamentos da sociedade deveriam ser respondidos. Como as explicações do contrato com a Garoa no valor se R$ 2,7 milhões, em 2023; e as denúncias que a sociedade fazia do lugar.
Nos dois casos, faltaram empatia e respeito a uma comunidade ferida por tamanha perda. Um comportamento gerado, talvez, pela mesma indiferença que pulsa nas veias da sociedade, regada de preconceito, segregação e aporofobia a quem vive à margem.
O ‘Que Vem das Ruas’ entrou em contato com a Comunicação Social da Prefeitura de Porto Alegre e a resposta para o impedimento foi:
“Prezado, a coletiva se dedicava a veículos de imprensa tradicionais”. Fiz outras perguntas, mas também obtive o silêncio como resposta. Minutos depois, mais uma frase: “Essa é a manifestação da prefeitura”. (A conversa foi via WhatsApp, já que estou fora da Região Sul).
Como jornalista que sou, por formação e diploma (DRT/SE 1.147), entendo a fala da colega – a qual acredito que seja jornalista/publicitária/radialista diplomada também. Porém, entendo ainda que, neste momento, a história do veículo e a relação com as vítimas deveriam ser respeitadas.
O ‘Boca de Rua’ é um veículo popular, sim! Alternativo, cidadão (que fala a língua do povo em situação de rua) e com o respeito na comunidade das ruas e também da academia. Afinal, são mais de duas décadas de história, de luta.

Será que este é o mesmo tratamento dados aos influenciadores digitais e donos de sites? Àqueles que cobrem eventos da prefeitura de Porto Alegre, sem mesmo ter um jornalista para representá-los.
Ah! E não foi a única negativa. À noite, na Delegacia da Polícia Civil, o grupo tentou fazer um Boletim de Ocorrência, mas não conseguiu, porque o funcionário teria que se alimentar. “A gente chegou às 6h40 e ele falou que às 7h fechava (...) Já colocaram para nós que não poderia atender mais, que já estava em cima do horário, que ele tinha que jantar” (sic), lamentou o representante no vídeo postado no Instagram do Jornal ‘Boca de Rua’.
Como jornalista profissional e diplomado, entendo que não dá para invisibilizar a força desse veículo. Nenhum outro tem o poder de penetrar/comunicar tão bem com as pessoas em situação de rua, quanto o deles. Faltou um pouco de conversa, acalmar os ânimos, a emoção... pra entender que naquela coletiva cabia o ‘Boca’. Faltou empatia com o Jornal premiado na categoria “Boas Práticas”, em 2013, no Prêmio AJURIS Direitos Humanos da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul.
*jornalista e Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

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