Jantinha de Rua - uma mãe para quem vive em situação de rua
- 12 de mai. de 2024
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No dia 17 de setembro de 2021, a designer de interiores, Luciana Galvão, tomou a decisão de cuidar das pessoas que vivem em situação de rua, na capital de Sergipe. Foi aí que nasceu o projeto Jantinha de Rua com 15 marmitas e atualmente atende cerca de 70 pessoas. No passado, já conseguiu alimentar em uma só noite 120 pessoas nestas condições.
Luciana sentiu um chamado no coração, uma voz dizendo para ira até o supermercado, comprar alimentos e preparar para as pessoas em situação de rua. Fez isso durante oito meses na missão solitária, até ganhar a companhia de uma amiga e depois de vizinhos. O apoio durou dois anos e novamente voltou ao trabalho solitário.
Para preparar os alimentos, Luciana conta com a doação de pessoas através da chave PIX 79991282763. Dessa forma, atualmente leva 70 litros de água e 70 refeições embaladas por ação.
Neste domingo, Dia das Mães, a Jantinha de Rua não vai matar a fome e nem a sede dessas pessoas por falta de recursos. “As doações têm sido muito frágeis e a gente entende. Tem todas essas mães no Rio Grande do Sul também precisando. É uma sociedade pequena para tanta coisa, mas a gente conta com vocês”, declarou em mensagem na rede social do projeto.

Em um vídeo, a designer de interiores trouxe a imagem da mãe em situação de rua, que ao longo desses quase três anos tem registrado nas ruas de Aracaju. São mães desabrigadas, envolta à violência das ruas e tentando proteger os filhos. “É uma mãe forte, mas é uma mãe que muitas vezes se desespera por fome, por medo de levarem sua cria embora. Porque é assim que funciona. Se uma mãe não tem onde morar com seu filho, a criança é retirada dela”, afirma.
Luciana traz um relato forte sobre o ser mãe nestas condições com todos os tipos de insalubridade. “Já vi uma mãe que escondia seu filho num terreno baldio, um telhadinho de amianto, permitido pelo dono do terreno: ‘eu falei com ele moça. Eu falei com ele, ele deixou tá, mas não me denuncia se não vão levar meu filho’. Já vi também uma drogada, muito drogada para aguentar a fome, o frio debaixo de muita chuva, mas com seu filho recém-nascido. Aquela criança não deveria ter nem um mês. E quando a gente se aproximou, ela voou feito uma leoa. Eu senti medo, até que outra pessoa em situação de rua se aproximou e disse: ‘deixa comigo. Não entrega para ela, não. Ela tem muito medo que levem o filho dela’. E era bem sobre isso que ela falava: ‘Ninguém vai chegar perto do meu filho’. A mãe em situação de rua sofre mais do que nós todas as mães, que já sofremos para caramba. Toda mãe é uma mãe sobrecarregada - em algum momento da vida - imagina as mães em situação de rua”, contou emocionada.
Mesmo sem doações para este segundo domingo de maio, Dia das Mães, Luciana Galvão, continuará na luta para alimentar outras mães, pais, filhos, irmãos e centenas de desconhecidos, invisibilizados. São pessoas que sofrem no anonimato, no silenciamento da sociedade e dos governantes que poderiam e deveriam aplicar as políticas públicas ao invés de promoverem a política do “pão e circo”. Sim, o povo quer arte, mas como apreciar não seria a arte da vida a mais urgente? Se falta a essa gente comida, água e atenção, como enxergar outra coisa a não ser o sofrimento que só eles sabem?!
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