Grávida de 2 meses, alagoana em situação de rua vai passar mais um Dia das Mães longe dos filhos
- 10 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de mai. de 2024
Há uma década, Charlene Pereira dos Santos, 37 anos, está sobrevivendo nas ruas de Aracaju (SE).

Por Anderson Barbosa.
O Velho Chico divide os Estados de Sergipe e Alagoas, na Região Nordeste. Essa linha divisória, Charlene Pereira dos Santos, 37 anos, cruzou há cerca de 10 anos para morar em Aracaju (SE), distante 150 Km de Penedo (AL), cidade natal da mulher que, antes de viver em situação de rua, sempre sonhou ser professora e mãe.
O segundo desejo ela realizou. É mãe de dois filhos, os quais não abraça há mais de cinco anos, e está no segundo mês de gestação do companheiro, juntos há quatro meses. Neste domingo (12), será mais um Dia das Mães sobrevivendo nas ruas à base de muita saudade.
“Meus filhos se chamam Jonathan e Júlia. A menina tem 18 anos e o menino 22. Eles vivem com minha irmã, em Penedo. Tem mais de 5 anos que não os vejo. Tenho muita saudade. Às vezes, choro sozinha”, revela.
Com a ajuda das amigas, há cerca de 4 meses conversou com os filhos através de uma chamada de vídeo e mais uma vez pediram para a mãe voltar para casa. Charlene conta que se acostumou com a vida em Sergipe. Como eles estudam e ela não tem uma casa, não consegue recebê-los.
“Sempre sonhei em ser mãe, mas não assim como estou hoje em dia. Esse aqui (apontando para a barriga) quero criar. Dá carinho, não fazer que nem os outros, que não pude criar. Eles foram criados longe de mim. Quero conviver com ele, pertinho dele. Dá amor, dá carinho. O que eu não dei aos outros, quero dá a ele”, conta.
Em uma década nas ruas, Charlene já foi vítima de violência. Enquanto dormia, na Rodoviária de Aracaju, teve todos os documentos furtados. Em outro dia, foi acordada aos chutes.

“Deu tá dormindo e chegar alguém me chutar, me tirar daquele local, onde a gente não podia dormir. De humilhar, desfazer de mim. Violência verbal. Ninguém é melhor que ninguém, mas tem gente que se acha”, relembrou.
Aos 37 anos, Charlene que já realizou o sonho da maternidade ainda quer voltar a estudar, para ser professora, ter um trabalho e conquistar uma vida estabilizada, com respeito e cidadania.
“Ainda tenho esse sonho. A gente tem que correr atrás de nossos sonhos que a gente consegue. Preciso dinheiro, arrumar um trabalho”, disse.
Além da saudade dos filhos, também sente falta da mãe, que morreu sem se despedir. Um certo dia, foi procurada pela família e avisada. “Deus levou ela e quando fui saber já tava enterrada. Tinha morrido há oito dias. Um tia veio me avisar", contou Charlene, que tem mais cinco irmãs.
Perguntada sobre qual o desejo para o Dia das Mães, não teve dúvida no que responder. “Ir pra casa. Só isso”. Ela aproveitou para mandar uma mensagem para as outras mães que estão nas ruas e também para a que tem uma vida de estabilidade. “Amem seus filhos. Não abandonem como eu. Não abandonei, foi coisa do destino. Um Feliz dia das Mães para todas as mães!”.
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