Documentário conta história de empresário baiano que morou nas ruas de Aracaju
- 20 de jun. de 2024
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Atualizado: 21 de jun. de 2024
"Morei nas ruas durante três anos e fui tocado fogo, apedrejado, torturado, humilhado, tirei comida do lixo pra sobreviver, fui cuspido e tal", relembrou Carlos Henrique.

O documentário ‘Mas Sobrevivi - A História de Um Campeão’ apresenta parte da vida do baiano de Cícero Dantas, Carlos Henrique Pereira, 45 anos, durante o período no qual viveu em situação de rua no Bairro Siqueira Campos, Zona Oeste de Aracaju (SE). Atualmente, ele é empresário do ramo de academia no município de Ribeira do Pombal (BA).
O média-metragem de 45 minutos, produzido por Beto Moura Filmes, foi lançado há três meses em Ribeira do Pombal com a participação de cerca de 500 pessoas. Elas acompanharam Carlos Henrique revisitando os lugares onde viveu dos 14 aos 17 anos, após deixar o interior da Bahia em cima do teto de vagões de trem, arriscando a vida em uma viagem de cerca de 12 horas.
Os pais de Carlos Henrique estavam separados quando aos 8 anos de idade, a mãe dele o retirou da casa do pai e decidiu criá-lo sozinha longe do esposo na cidade de Esplanada, também na Bahia. Ele ficou até o 17 anos sem ter contato com o pai biológico, sofrendo maus tratos do padastro. Motivo principal de ter deixado a casa para viver nas ruas de Aracaju.
O filme tem um relato marcado por momentos de forte emoção, superação, perdão, amor e fé que ajudaram na reconstrução dos fatos e no reencontro com o taxista Guru, um amigo que fez nas ruas sergipanas.
“meu maior sonho era encontrar esse cara que comprou uma roupa pra eu ir ao aniversário da filha dele. Eu só tinha uma roupa, né? Eu tomava banho, ficava nu e esperava a roupa secar", revelou Henrique.
Na condição de invisível social, o baiano lidou com o medo da violência das ruas. Era comum ficar em vigília à noite/madrugada e pelo dia dormia mais tranquilo, mesmo com a cidade em pleno vapor. O teto do ponto de ônibus era o lugar preferido para descansar.
Apesar de todo esse cuidado, não escapou da tortura dentro de uma cela de uma delegacia, por não colaborar com informações com a polícia. Ele também precisou ser forte para largar as drogas.

A história contada pelo ex-morador em situação de rua tem o auxílio da dramatização para remontar as cenas vividas por ele. Uma delas, retrata a violência provocada pelos próprios companheiros de rua, quando teve parte do corpo incendiada.
"Morei nas ruas durante três anos e fui tocado fogo, apedrejado, torturado, humilhado, tirei comida do lixo pra sobreviver, fui cuspido e tal", relembrou com lágrimas no olhar.
Outro momento importante no documentário é quando Henrique volta à porta da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. O mesmo local que no passado foi ajudado por uma senhora, que também leu o trecho do livro bíblico de Isaías 63,9: “Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade”.
Carlos Henrique espera que o documentário chegue às pessoas com histórias de vida semelhante em Aracaju, assim como todos os outros grupos da sociedade para entenderem a realidade de quem está em situação de rua.
O filme traz ainda relatos de amigos e familiares que precisaram lidar com o sentimento de incertezas, sem notícias do adolescente.

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