20 pessoas em situação de rua realizarão o sonho da casa própria
- 15 de nov. de 2024
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Ter uma casa é o sonho de muitos brasileiros. Um desejo nem sempre possível de ser concretizado, principalmente pela ausência de outros direitos tão básicos quanto o da habitação assegurados pela Constituição Federal de 1988 e que muitas vezes só existem no papel.
Pelo menos para 20 pessoas em situação de rua de Aracaju, capital de Sergipe, até o Natal realizarão o este sonho. É que a Secretaria Municipal da Assistência Social realizou nesta quinta-feira, 14, o sorteio de 20 unidades habitacionais do Residencial Lamarão, construídas a partir do projeto da Perimetral Oeste.
As casas fazem parte do Programa de Requalificação Urbana Construindo para o Futuro, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em um investimento de R$ 43,7 milhões. Ao todo, o residencial terá 484 unidades (219 são para as famílias realocadas em decorrência da obra, 265 unidades para beneficiários do Auxílio Moradia há mais de 10 anos e 20 para pessoas em situação de rua).
Com 33 anos, Daniel dos Santos Alves é mãe de três filhos. Desempregada, precisa se virar para pagar o aluguel para dar o mínimo de conforto à família. Desde fevereiro, após anos nas ruas e abrigos, ele começou a buscar apoio no Centro Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP). Ela conta os dias para entrar na casa própria e realizar o sonho, com mais conforto para os filhos.
“Eu sofri muito com meus filhos, e foi muita dificuldade, trabalho na rua, passei muito tempo devendo aluguel, acabei sendo expulsa por não ter condições financeiras de pagar, então eu sofri muito e, para mim, é uma honra isso aqui. É muito gratificante, porque todo mundo tem seu próprio sonho, mas o meu era ter o meu lar, poder chegar em casa depois do meu trabalho, com meus filhos, descansar, dormir em paz sem ninguém tá me cobrando nada, sem dever nada pra ninguém, sem estar sendo expulsa. Durante esse tempo, a equipe me deu assistência com meus filhos, procurou saber por qual motivo eu estava naquela situação, eu participei dos encontros e agora só gratidão, porque eu não tinha apoio de ninguém, então desde ontem que eu choro, essa situação não tem dinheiro que pague, é uma felicidade que não tem tamanho”, relata, emocionada.
Há um ano, Marcos Vinícius saiu da situação de rua e começou a ser assistido pela Casa de Passagem Municipal Freitas Brandão. “Eu caí no mundo das drogas e perdi tudo que eu tinha na vida, acabei indo para as ruas e, através do Centro Pop, fui bem recebido pela equipe, depois dali eu fui encaminhado para o Freitas Brandão, e nesses processos eu fui muito bem acolhido como se fosse filho, consegui dar entrada na minha aposentadoria e, graças a Deus, agora vou ter minha casa, no meu nome”, conta Marcos.
O coordenador da Proteção Social Especial, Edilberto Filho, descreve o momento como histórico e relata a gratificação em fazer parte da equipe, que atua de forma integrada para a efetividade da garantia de direitos.
“O direito ao acesso à moradia é um direito pétreo que está na nossa constituição e, a partir de um olhar técnico, de um olhar, inclusive, intimista com o público mais vulnerável da capital sergipana, a Prefeitura, através da Assistência Social, consegue organizar esse grupo e garantir o acesso à moradia popular, e isso mostra o quanto é importante as políticas públicas serem integradas. O que nós estamos fazendo é histórico, nós estamos garantindo o direito de pessoas que estão em situação de rua ou estão na saída da situação de rua, dentro dos acolhimentos institucionais, para sua própria residência, garantindo a efetivação dos seus direitos e transformando as vidas, isso gera uma transformação na autoestima, uma transformação na forma de vivência, uma reconstrução e uma releitura do que é ser humano, do que é viver, e esse momento é de muita alegria e muita emoção”, pontua Edilberto.
Este novo momento na vida dessa pessoas, necessita de apoio multidisciplinar. O retorno a uma rotina da que estava acostumado nos últimos anos, requer um reaprendizado de coisas simples, mas que há um bom tempo não são praticados. Além de um endereço físico, o recomeço necessita de renda, trabalho.
Para isso as 20 famílias participaram da edição especial da Oficina Grana Preta, realizada pela Gerência de Igualdade Racial da Diretoria de Direitos Humanos, com o objetivo de levar conhecimento para lidar com o dinheiro de forma mais consciente e inteligente.
“É importante a gente desmistificar que educação financeira não é apenas para rico, para quem tem dinheiro, educação financeira é para o cidadão saber como lidar no seu dia a dia, saber como se organizar na sua vida, isso faz parte do cotidiano do cidadão. A gente está muito feliz em estar proporcionando um momento desse para um segmento tão excluído e invisível na sociedade”, afirmou a secretária da Assistência Social de Aracaju, Rosária Rabelo.
*Com informações do site da Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju
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